
O setor varejista brasileiro tem enfrentado um cenário de contrastes nos primeiros meses de 2025, marcado por quedas em alguns segmentos e crescimento em outros. Enquanto o varejo restrito (que exclui veículos e materiais de construção) apresentou retração, o varejo ampliado mostrou resiliência, impulsionado por setores específicos. Neste artigo, exploramos os dados mais recentes, as tendências e os fatores econômicos que influenciaram esse desempenho.
Desempenho do Varejo em Janeiro de 2025
De acordo com o IBGE, as vendas do varejo restrito caíram 0,1% em janeiro de 2025, marcando o terceiro mês consecutivo de queda. Esse resultado ficou abaixo das expectativas do mercado, que projetavam uma alta de 0,3% . Os setores que mais contribuíram para essa retração foram:
Hiper e supermercados (-0,4%)
Artigos farmacêuticos e perfumaria (-3,4%, quarto mês consecutivo de queda)
Por outro lado, o varejo ampliado (que inclui veículos, materiais de construção e atacado de alimentos) registrou um crescimento de 2,3% no mesmo período, superando as projeções de 1,6% . Os destaques foram:
Veículos, motos e peças (+4,8%)
Material de construção (+3,0%)
Possíveis Causas para o Desempenho Misto
1. Pressão Inflacionária e Juros Elevados
A inflação, especialmente nos preços de alimentos, tem impactado o poder de compra das famílias, levando a uma redução no consumo de itens básicos. O IPCA encerrou 2024 em 4,83%, acima da meta do Banco Central (4,5%), e as projeções para 2025 indicam que a inflação pode permanecer elevada devido ao câmbio desvalorizado e problemas climáticos . Além disso, a taxa Selic em 12,25% tem encarecido o crédito, afetando setores dependentes de financiamento, como móveis e eletrodomésticos .
2. Mudanças no Comportamento do Consumidor
Com a alta dos juros e a inflação, os consumidores estão priorizando gastos essenciais e adiando compras de bens duráveis. Isso explica a queda em setores como vestuário e eletrodomésticos, enquanto farmácias e supermercados mantiveram certa estabilidade . Além disso, o aumento das apostas online tem desviado parte do orçamento familiar, reduzindo a capacidade de consumo em outros segmentos .
3. Crescimento do Varejo Ampliado: Influência do Crédito e do Agro
O bom desempenho de veículos e materiais de construção pode estar relacionado a:
Maior acesso a crédito direcionado (como financiamentos para automóveis) .
Forte desempenho do agronegócio, que impulsiona a economia em regiões agrícolas, aumentando a demanda por veículos e insumos .
4. Impacto do Câmbio e das Condições Globais
A alta do dólar (que chegou a R$ 6,267 em 2024) encareceu produtos importados, pressionando ainda mais os preços internos. Isso afetou principalmente setores dependentes de insumos estrangeiros, como eletrônicos e automóveis .
Perspectivas para o Restante de 2025
Analistas projetam um crescimento moderado para o varejo em 2025, com estimativas entre 1,7% (varejo restrito) e 1,45% (varejo ampliado) . Os principais desafios incluem:
Manutenção de juros altos pelo Banco Central para conter a inflação.
Aumento da inadimplência, que pode limitar o consumo.
Crescimento desigual entre setores, com farmácias e construção civil mantendo desempenho positivo, enquanto supermercados e eletrodomésticos enfrentam dificuldades .
Conclusão
O varejo em 2025 está em um momento de transição, com setores essenciais resistindo melhor às pressões econômicas, enquanto outros sofrem com crédito caro e inflação. A recuperação sustentável dependerá de fatores como:
Controle da inflação e possível redução da Selic no segundo semestre.
Fortalecimento do mercado de trabalho, que sustenta o consumo das famílias.
Adaptação das empresas a um cenário de consumo mais seletivo, com investimentos em tecnologia e omnicanalidade .
Para os varejistas, a chave será diversificar estratégias, focando em eficiência operacional e experiência do cliente, enquanto aguardam uma melhora no cenário macroeconômico.
Fontes:
O Globo – Vendas do varejo caem 0,1% em janeiro, diz IBGE
CNN Brasil – Inflação deve seguir alta em 2025
Portal do Comércio – Varejo em 2025: desafios
Ecommerce Brasil – Estagnação no varejo em 2025