A recente onda de tarifas comerciais impostas pelo governo de Donald Trump nos Estados Unidos tem gerado um terremoto na economia global, com impactos significativos para o Brasil. Embora o país tenha recebido uma alíquota relativamente baixa (10%) em comparação com outras nações, como China (54%) e União Europeia (20%), os efeitos indiretos dessa guerra comercial podem levar a uma estagnação econômica no Brasil, agravando desafios já existentes, como a desaceleração industrial e a incerteza nos mercados internacionais .
1. Impacto Direto na Indústria Brasileira
A indústria brasileira, que já enfrenta uma crise de produtividade e competitividade, pode ser uma das mais afetadas pelo tarifaço de Trump. Dados do IBGE mostram que a produção industrial brasileira recuou pelo quinto mês consecutivo em fevereiro de 2025, com queda de 0,1% em relação a janeiro, refletindo um cenário de juros altos e custos elevados .
Além disso, setores estratégicos como o aço e o alumínio foram taxados em 25% pelos EUA, independentemente do país de origem. Isso prejudica diretamente as exportações brasileiras, já que os produtos siderúrgicos são o segundo item mais vendido ao mercado americano, atrás apenas do petróleo . A Embraer, uma das principais exportadoras brasileiras de bens manufaturados, também está entre as empresas mais expostas a esse cenário .
2. Desaceleração do Comércio Global e Efeitos para o Brasil
A Organização Mundial do Comércio (OMC) projeta que o aumento das tarifas americanas reduzirá o comércio mundial em 1% em 2025 . Como o Brasil depende fortemente das exportações de commodities e produtos manufaturados, uma retração na demanda global pode pressionar ainda mais a balança comercial.
Além disso, a escalada de retaliações entre EUA, China e Europa cria um ambiente de incerteza que desestimula investimentos e paralisa decisões empresariais. Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, classifica o tarifaço como “o maior choque comercial desde os anos 1930”, com potencial para desestruturar cadeias produtivas globais .
3. Pressão Inflacionária e Câmbio Volátil
O aumento das tarifas deve pressionar os preços internos nos EUA, elevando custos de importação de produtos asiáticos em até 30% . Essa inflação importada pode ter reflexos no Brasil, especialmente em setores dependentes de insumos estrangeiros.
O dólar também tem apresentado volatilidade, chegando a superar R$ 5,90 após o anúncio das tarifas . Uma moeda norte-americana mais forte encarece as importações brasileiras e aumenta a dívida externa, enquanto uma eventual desvalorização abrupta pode elevar a inflação doméstica.
4. Oportunidades Limitadas e Dependência da China
Alguns analistas argumentam que o Brasil pode se beneficiar do desvio de comércio, com a China buscando alternativas às commodities americanas, como soja e carne . No entanto, essa vantagem é parcial, pois:
- A indústria brasileira perde espaço nos EUA devido às tarifas.
- A aproximação comercial com a China aumenta a dependência de um único parceiro, o que pode ser arriscado em um cenário de conflito geopolítico.
5. Risco de Estagnação Prolongada
Se a guerra comercial levar a uma recessão global, como projetam economistas do Goldman Sachs (que elevou a probabilidade de recessão nos EUA para 45%), o Brasil pode enfrentar um período prolongado de baixo crescimento. Em 2018-2019, medidas semelhantes de Trump reduziram o PIB global em 0,7 ponto percentual, com impacto de 0,2 ponto no Brasil .
Além disso, a indústria nacional, já fragilizada, pode sofrer mais que o agronegócio, aprofundando a desindustrialização e limitando a capacidade de recuperação econômica .
Conclusão: Um Cenário de Incertezas
O tarifaço de Trump não é apenas uma medida protecionista, mas um movimento que redefine as relações comerciais globais. Para o Brasil, os efeitos combinados de menor acesso ao mercado americano, pressão cambial e desaceleração da economia mundial podem levar a uma estagnação econômica em 2025, com crescimento projetado em apenas 2%, abaixo do desempenho de 2024 (3,4%) .
Apesar de eventuais ganhos pontuais com a China, o país precisa diversificar seus parceiros e acelerar reformas estruturais para evitar ficar refém de um cenário internacional cada vez mais turbulento. Caso contrário, a estagnação pode se tornar uma realidade mais dura do que o esperado.
Fontes:
- Agência Brasil
- Estadão
- BBC News Brasil
- CNN Brasil
- DW